As pacientes chegam ao consultório e declaram:
“A minha barriga me incomoda “
“Eu quero tirar a minha barriga”
“Eu quero tirar isso”, pinsando o abdome com as duas mãos .
O que é barriga ?
Barriga é uma região anatômica que se estende das costelas, superiormente, até o osso do púbis, inferiormente, e no sentido ântero-posterior vai até a coluna .
É revestida por pele abaixo da qual temos o tecido adiposo (gordura) que pode apresentar diferentes espessuras desde milímetros até 10,12 cm.
Abaixo da gordura encontramos os músculos que envolvem toda a circunferência abdominal e particularmente na região anterior estão dispostos sob a forma de lâminas como se fossem bifes bem fininhos. Na verdade antes dos músculos e os envolvendo, temos a aponeurose .Trata-se de um tecido bem delgado semelhante a um tecido de linho .
Ultrapassando a camada muscular entramos na cavidade abdominal. Denomina-se cavidade justamente porque é um buraco aonde estão localizados todos os órgãos abdominais. Temos então 4 níveis, ou quatro tecidos, ou 4 camadas. Cada uma delas tem seus problemas” pessoais”:
1- a pele pode estar flácida
2- a gordura espessa
3- o músculo flácido/aponeurose esgarçada 4-órgãos repletos de gordura.
Cada um desses problemas pode existir de forma isolada; podemos ter a combinação de dois ou três problemas que se associam de forma variada; podemos ter todos os problemas (o que é o mais comum); e muito importante, podemos identificar cada uma das situações acima descritas, com os problemas presentes apresentando graus diversos de intensidade. Por exemplo: pele pouco flácida; gordura muito espessa; flacidez muscular média para grande; órgãos com acúmulo de gordura médio para grande.
Ou seja pode variar o número de problemas, a forma como se associam, e a intensidade em que se apresentam.
Em geral o problema que se destaca determina o tratamento
Por exemplo: pele muito flácida é igual a abdominoplastia.
Mas esse raciocínio não é sempre tão retilíneo. Então gordura muito espessa combinada com pele muito flácida exige uma abdominoplastia e não uma lipoaspiração como poderia ser suposto inicialmente. Entenda em “As deformidades abdominais e suas soluções”.
Outra situação com a qual precisamos tomar cuidado é quando o paciente está insatisfeito com um determinado problema mas o bom senso nos obriga a indicar procedimentos que corrigem um outro problema. Entenda em” O problema não é o problema”.
Alguns problemas quando presentes em graus muito elevados estão fora do âmbito cirúrgico. Entenda em “Casos não cirúrgicos”. Mas o objetivo de toda essa narrativa é que cada um desses problemas é corrigido por um tratamento específico. Assim se observarmos flacidez de pele ou flacidez muscular indicamos abdominoplastia. Obs: Lembrem-se das exceções citadas anteriormente. Espessuras muito grandes de gordura são corrigidas através da lipoaspiração.
Depósito muito grande de gordura a nível dos órgãos: a solução é não cirúrgica.
E se optamos por um determinado tratamento que corrija o problema A, e temos uma associação de problemas, alguma coisa ficará sem solução!
Esse fato interfere na percepção e julgamento do resultado.
Com certeza alguém vai se levantar e sugerir: “Faz abdominoplastia com Lipo”.
Será que vale a pena? Entenda em “Associação de abdominoplastia com Lipo”.
De qualquer forma a realidade é a seguinte :
O que chamamos de barriga pode conter até quatro problemas, cada um com sua solução específica. Se corrijo só um ou dois dos problemas é óbvio que não alcançarei um resultado final excelente; mesmo na hipótese de interferirmos em todos os níveis ao mesmo tempo (e essa é uma das causas), nunca obteremos 100% de melhora.
Associação de abdominoplastia e lipoaspiração.
Realmente vale a pena?
É de conhecimento geral que abdominoplastia corrige excesso de pele e distensão da musculatura abdominal. Lipoaspiração por sua vez, retira excesso de gordura.
Em maior ou menor proporção e com combinações de problemas variados, todos aqueles que se queixam da barriga apresentam esses três problemas.
A questão é que cirurgia plástica não é passe de mágica, e a minha varinha de condão está em manutenção.
Uma cirurgia plástica qualquer que seja ela, envolve e requer grandes descolamentos de pele e ou grandes retiradas de tecido. Daí a denominação plástica: modificação ou manuseio importante dos tecidos.
E isso só é possível porque há uma fonte de circulação sanguínea que nutre aquele tecido durante o período de cicatrização, e sem a qual o tecido morre, apodrece, necrosa.
Então não há milagre: eu posso descolar até determinado ponto à partir do qual comprometo a circulação sanguínea do retalho e me aproximo do risco de necrose; eu posso retirar até um determinado volume a partir do qual comprometo a viabilidade sanguínea da região e aumento o risco de necrose; e assim por diante .
Diante disso fica óbvio que se eu machuco vários tecidos ao mesmo tempo (na mesma cirurgia) causarei um comprometimento muito grande da circulação sanguínea responsável por nutrir aquela área e terei de certo uma necrose.
Baseado nisso fica evidente que se interferir nos tecidos de forma arrojada ou eficaz, e o fizermos em duas ou mais áreas adjacentes teremos certamente complicações.
Ou seja corrigir 100% duas ou mais regiões e sem complicações é impossível.
E aí quais são as opções?
- ou corrigimos cada um dos problemas em tempos cirúrgicos distintos .
- ou atuamos simultaneamente nos problemas porém corrigindo os parcialmente. É a mesma situação de: Vou receber visita em casa; minha casa tá imunda e não tenho tempo de limpar-lá adequadamente; opto por dar uma varridinha nos locais de maior visibilidade e deixo os cantos todos sujos. Quando estamos falando da faxina da casa até tudo bem dar uma burlada, mas quando o assunto é cirurgia plástica as consequências podem ser irreversíveis.
- Presta atenção no problema irreversível que surge quando da associação de abdominoplastia e lipoaspiração mesmo que a paciente seja magra e portanto não apresente muita distensão abdominal e também não possua muito volume intra-abdominal. Caso real:
Paciente magra, fez os dois procedimentos juntos ,o que significa que: - o abdômen não foi descolado até o osso do esterno; por conta disso seus músculos não foram amarrados adequadamente;
- foi retirado apenas metade do volume de gordura em relação ao que era possível.
- Consequência imediata:
- insatisfação por que a lipoaspiração parcial não conseguiu deixá-la acinturada .
Consequência depois de poucos meses: - como engordou 3 kg, surgiu uma protuberância no abdômen superior aonde os músculos não estavam adequadamente amarrados, não conseguindo conter o aumento do volume intracavitario provocado pelo acúmulo de gordura, problema que não dá para corrigir!
- para evidenciar sua cintura terá que submeter-se a uma lipoaspiração acurada.
E quando a paciente tá acima do peso, o impacto a nível de resultado obtido é muito mais pronunciado.